Ano de publicação: 2021
Contexto:
A suplementação de ácido fólico durante toda a gestação é recomendada pelo Ministério da Saúde para prevenção da ocorrência de defeitos do tubo neural. A dose recomendada é de 400 mcg/dia nas gestações de baixo risco para esses defeitos e doses elevadas de 4000 a 5000 mcg/dia em situações de alto risco. Devido à indisponibilidade do ácido fólico na dose de 400 mcg no SUS, têm sido prescritas doses elevadas para todas as gestantes. Sem desconsiderar os benefícios do ácido fólico, é necessário investigar a segurança de seu uso em doses elevadas para a saúde de mulheres e crianças.
Pergunta:
Qual é a segurança da suplementação de ácido fólico em dosagem elevada durante a gestação?
Métodos: Após realização de protocolo prévio, sete bases da literatura eletrônica foram buscadas em duas ocasiões, junho e julho de 2021, para identificar estudos que abordassem possíveis riscos da suplementação com doses elevadas de ácido fólico para gestantes e crianças. Utilizando atalhos de revisão rápida para simplificar o processo, foram realizadas seleção e extração dos dados com posterior avaliação da qualidade dos estudos.
Resultados:
A primeira busca recuperou 1.641 registros, dos quais cinco foram selecionados e informaram possíveis riscos do uso de ácido fólico em doses elevadas na gestação para as crianças, com relação a alergias, transtornos do desenvolvimento infantil e do espectro autista. Em face desses resultados, realizou-se uma busca de revisões sistemáticas que analisaram a associação entre uso de ácido fólico por gestantes e esses três agravos para suas crianças. Nesta segunda busca foram identificadas 88 RS, das quais nove foram incluídas nesta revisão rápida, todas de confiança criticamente baixa. Com relação ao transtorno do espectro autista, quatro RS relataram que o uso de ácido fólico em doses elevadas reduziu o risco, uma RS relatou não haver associação e duas RS apresentaram resultados contraditórios. Das RS que analisaram associação entre uso de ácido fólico e desenvolvimento infantil, duas relataram efeito protetor e duas mostraram que não houve associação estatisticamente significativa. Quanto ao desenvolvimento de alergias na infância, uma RS mostrou aumento no risco principalmente com o uso de dose de ácido fólico abaixo de 400 mcg. E uma RS relatou não haver associação entre uso de ácido fólico e asma em crianças em uma metanálise, e risco aumentado de asma em outra metanálise.
Considerações finais:
Esta revisão rápida incluiu nove RS que analisaram uma possível associação entre o uso de ácido fólico em doses elevadas durante a gestação e o risco para a saúde das crianças. Com relação aos transtornos do desenvolvimento e do espectro autista, os estudos mostraram que não houve associação ou o uso de doses elevadas de ácido fólico por gestantes teve um efeito protetor para esses agravos. Para as alergias na infância, os resultados dos estudos foram conflitantes, ora mostrando que não houve associação, ora mostrando aumento do risco. Conclui-se, portanto, que não há evidências suficientes para afirmar que o uso de ácido fólico em doses elevadas durante a gestação tenha associação com riscos para a saúde de mulheres e crianças. É importante ressaltar que há uma escassez de estudos sobre a segurança da suplementação com ácido fólico em doses elevadas, e que a avaliação metodológica das revisões sistemáticas incluídas mostrou que são de confiança criticamente baixa.
Considerando essa particularidade do Brasil, onde gestantes de baixo risco para gerar crianças com defeito do tubo neural estão recebendo a dose de ácido fólico recomendada apenas para gestantes de alto risco, há necessidade de acompanhamento dessas gestantes para afastar possíveis riscos para a saúde de suas crianças.
Background:
Folic acid supplementation throughout pregnancy is recommended by the Ministry of Health to prevent the occurrence of neural tube defects. The recommended dose is 400 mcg/day in low-risk pregnancies for these defects and high doses of 4000 to 5000 mcg/day in high-risk situations. Due to the unavailability of folic acid at a dose of 400 mcg in the SUS, high doses have been prescribed for all pregnant women. Without disregarding the benefits of folic acid, it is necessary to investigate the safety of its use in high doses for the health of women and children.
Question:
How safe is high-dose folic acid supplementation during pregnancy?
Methods: After carrying out a previous protocol, seven databases from the electronic literature were searched on two occasions, June and July 2021, to identify studies that addressed possible risks of supplementation with high doses of folic acid for pregnant women and children. Using rapid review shortcuts to simplify the process, data selection and extraction were performed with subsequent evaluation of the quality of the studies.
Results:
The first search retrieved 1,641 records, of which five were selected and reported possible risks of the use of folic acid in high doses during pregnancy for children, in relation to allergies, child development disorders and autism spectrum disorders. In view of these results, a search for systematic reviews was carried out that analyzed the association between the use of folic acid by pregnant women and these three conditions for their children. In this second search, 88 SRs were identified, of which nine were included in this rapid review, all of which were critically low confidence. With regard to autism spectrum disorder, four SRs reported that the use of high-dose folic acid reduced risk, one SR reported no association, and two SRs had contradictory results. Of the SRs that analyzed the association between folic acid use and child development, two reported a protective effect and two showed no statistically significant association. Regarding the development of allergies in childhood, an RS showed an increased risk, especially with the use of folic acid doses below 400 mcg. And one SR reported no association between folic acid use and asthma in children in one meta-analysis, and increased risk of asthma in another meta-analysis.
Final considerations:
This rapid review included nine SRs that analyzed a possible association between the use of high doses of folic acid during pregnancy and the risk to children's health. With regard to developmental and autism spectrum disorders, studies have shown that there was no association or the use of high doses of folic acid by pregnant women had a protective effect against these conditions. For childhood allergies, the results of the studies were conflicting, either showing that there was no association, or showing an increased risk. It is concluded, therefore, that there is not enough evidence to affirm that the use of folic acid in high doses during pregnancy is associated with risks to the health of women and children. Importantly, there is a paucity of studies on the safety of high-dose folic acid supplementation, and that methodological evaluation of the included systematic reviews has shown them to be of critically low reliability. Considering this particularity of Brazil, where pregnant women at low risk of having children with neural tube defect are receiving the dose of folic acid recommended only for high-risk pregnant women, there is a need for monitoring these pregnant women to rule out possible risks to the health of their children. .