Síntese rápida para enfrentamento do sofrimento psíquico de universitários: é tempo de uma política
Rapid synthesis to cope with psychic distress in university students: it is time for a policy
Ano de publicação: 2021
O conteúdo deste livro é resultado do estudo que teve como objetivo formular respostas institucionais ao sofrimento psíquico de estudantes universitários de cursos da área da saúde,
no contexto do campus do Quadrilátero da Universidade de São Paulo (USP).
O tema da saúde mental dos universitários é complexo, dado que se conjuga com a dinâmica
social como um todo e particularmente com a sociabilidade na universidade. Nos dias atuais,
observa-se aumento da preocupação com o problema, que tem sido tratado sob diferentes
ângulos, em âmbito nacional e internacional.
O estudo foi realizado na modalidade de Resposta Rápida (do Inglês Rapid Response) elaborado em 90 dias, conforme proposto pelo McMaster Health Forum2. Trata-se de uma modalidade de síntese de evidência para política e foi desenvolvida como parte das atividades de
estágio sanduíche da doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem
da USP, Emiliana Maria Grando Gaiotto, no McMaster Health Forum, da McMaster University,
no Canadá, com financiamento CAPES/USP/Print.
Este trabalho foi desenvolvido por professoras e pesquisadores de diversas instituições - Escola de Enfermagem da USP (EEUSP), da Faculdade de Odontologia da USP (FOUSP), do Curso de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas,
RS, da Fundação Oswaldo Cruz de Brasília, DF, do Laboratório de Implementação do Conhecimento em Saúde, do Hospital do Coração, do Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da
Saúde de São Paulo (IS), que integram a EVIPNET Brasil, uma rede para políticas informadas
por evidências.
Para delinear o problema, foram identificados na literatura elementos envolvidos na produção de sofrimento psíquico entre universitários. No contexto da USP, identificou-se também
serviços/programas de apoio à saúde mental disponíveis aos universitários e os do Sistema
Único de Saúde (SUS). Enquetes com informantes-chave, estudantes de graduação e pós-graduação de cursos da área da saúde da USP, possibilitaram melhor compreensão das dificuldades e necessidades dos estudantes e orientaram as buscas de estratégias para enfrentar
o problema. O problema foi equacionado por meio de um protocolo que estabeleceu a pergunta de pesquisa e os objetivos da revisão da literatura, bem como o processo de busca da
literatura e as fontes a serem pesquisadas. As buscas foram realizadas entre maio e junho
de 2020, em 21 fontes de dados bibliográficos, incluindo literatura cinzenta. O relatório em
Português foi finalizado em setembro de 2020 e traduzido para o inglês, recebendo feedback
do McMaster Health Forum em outubro. A partir desse feedback foram feitos ajustes no texto
e as versões em Português e Inglês estão reunidas neste E-book, com a finalidade de apoiar
a implementação de política de fortalecimento dos estudantes da área da saúde.
As evidências desses estudos embasaram a elaboração de quatro opções que convergem
para o estabelecimento de uma política universitária de fortalecimento da saúde mental de
estudantes dos cursos da área da saúde, e indicam integrar programas oferecidos pela universidade entre si e aos serviços do SUS, bem como monitorar as necessidades em saúde
mental e avaliar continuamente as ações oferecidas.
A literatura na área, a escuta de informantes chave e o levantamento dos recursos de atenção
em saúde mental da USP e do SUS permitiram compreender a multiplicidade de elementos
que estão nas bases do sofrimento psíquico de universitários dos cursos da área da saúde
e identificar respostas a elas, o que permitiu mostrar a complexidade do problema e a insuficiência atual das respostas institucionais oferecidas.
A síntese rápida da literatura identificou um conjunto expressivo de evidências sobre intervenções, majoritariamente indicadas por estudos classificados como de alta qualidade. Esses
resultados podem embasar a implementação de medidas consistentes para dar respostas
ao sofrimento psíquico, que vem acometendo os estudantes na atualidade e comprometendo
seu futuro. É possível, sob a responsabilidade da universidade, estabelecer uma política sólida, com ações coordenadas, contínuas e integradas ao SUS, para o fortalecimento de jovens
universitários.
Equacionar e levar a cabo as ações previstas em cada uma das opções é um desafio, e requer
da Universidade envolvimento e compromisso institucional com planejamento, desenvolvimento e implementação de uma política para o fortalecimento da saúde mental de universitários da área da saúde. Para isso, é imprescindível a adoção de instrumentos capazes de
reconhecer as necessidades em saúde e as manifestações de sofrimento psíquico de estudantes, estabelecer comissões institucionais para a elaboração, implementação, avaliação e
ampla divulgação de ações/programas internos à universidade, integrando-os entre si e com
os serviços do Sistema Único de Saúde.
A adoção das opções para uma política de fortalecimento da saúde mental de estudantes, ou
de parte delas pela Universidade, com vistas a superar a atual condição de fragmentação e
escassez das ações, tratá proteção aos estudantes, bem como confiança para finalizar seus
estudos, com a garantia de ter suas necessidades atendidas
Embora as opções tenham sido elaboradas para apoiar o equacionamento do problema na
USP, elas podem ser estendidas para diferentes universidades brasileiras. As autoras reconhecem que os desafios são enormes e que extrapolam os muros das universidades.
No período em que este livro foi editado, no final de 2020, a Política Nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas sofria pesada ameaça do Ministério da Saúde, por meio de mudanças que, se efetivadas, resultarão no desmonte da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS),
conquistada em processo histórico e político-legislativo, com ampla mobilização e participação social. A política de saúde mental de caráter antimanicomial efetivou avanços na atenção
à saúde mental pública e gratuita, que promoveu a dignidade daqueles que enfrentam o
adoecimento psíquico.
Em meio a mais um ataque ao Sistema Único de Saúde, é necessário que as universidades
se posicionem para reafirmar seus compromissos com a causa pública e com a ciência.
The content of this book is the result of a study1 that aimed to formulate institutional responses to the psychic distress of university students in health courses, in the context of the health
quad campus of the University of São Paulo (USP).
The theme of university students’ mental health is complex, given that it combines with the
social dynamics as a whole and particularly with sociability at the university. Nowadays, an
increase in the concern about the problem is observed, which has been treated from different
angles, both nationally and internationally.
The study was carried out in the Rapid Response modality and prepared in 90 days, as proposed by the McMaster Health Forum2 . This is a modality of synthesis of evidence for policy and
was developed as part of the sandwich internship activities of PhD student at the Graduate
Program of the Nursing School of the USP, Emiliana Maria Grando Gaiotto, at the McMaster
Health Forum, McMaster University, in Canada, with CAPES/USP/Print funding.