RUTF (ready-to-use-therapeutic-food): eficácia e segurança no tratamento de crianças com desnutrição grave
    RUTF (Ready-to-use-therapeutic-food): efficacy and safety in the treatment of children with severe malnutrition

    Año de publicación: 2023

    Contexto O Ministério da Saúde, por meio da Portaria GM/MS nº 28, de 20 de janeiro de 2023, declarou a Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) em decorrência de desassistência à população Yanomami. Desde então, entre 19 crianças indígenas de seis meses e cinco anos de idade com desnutrição grave que foram atendidas pela Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) de Boa Vista/RR, 15 (78%) ganharam peso e estão evoluindo de quadros graves para moderados de desnutrição, a partir dos protocolos e diretrizes do Ministério da Saúde. No Brasil, a recomendação do Ministério da Saúde para o tratamento da desnutrição grave inclui esquemas para alimentação utilizando preparado alimentar inicial – F-75 (75 kcal e 0,9g de proteína/100ml) e o preparado alimentar para crescimento rápido - F-100 (100 kcal e 2,9g de proteína/100ml). O guia de prática clínica (GPC) da Organização Mundial da Saúde (OMS) refere que a maioria das crianças de seis meses ou mais com desnutrição aguda grave, sem complicações médicas, pode ser tratada com segurança por meio de alimentos terapêuticos prontos para uso (Ready-to-use-therapeutic-food - RUTF), sem necessidade de internação em unidade de saúde. Pergunta Qual é a segurança e eficácia de RUTF, no curto e longo prazo, para o tratamento de crianças menores de cinco anos com desnutrição grave? Métodos Após realização de protocolo de pesquisa, cinco bases da literatura eletrônica foram acessadas em março de 2023 para identificar estudos que pudessem oferecer resposta à pergunta de investigação. Utilizando atalhos de revisão rápida, foram realizados os processos de seleção de estudos, extração de dados e avaliação da qualidade metodológica das RS incluídas com a ferramenta AMSTAR 2. Resultados Duas revisões sistemáticas (RS) foram incluídas, sendo avaliadas como de confiança baixa e moderada. Uma RS realizou metanálises, indicando que não houve diferença entre os grupos RUTF e F-100 para ganho de peso e mortalidade. A maioria dos estudos primários, 3 de 5 ensaios clínicos randomizados (ECR) citados nas RS mostram que não houve diferença entre os grupos RUTF e F-100 quanto à altura, circunferência do braço e desnutrição aguda.

    Dois estudos primários incluídos nas RS indicam que o tratamento com RUFT apresenta os seguintes resultados positivos:

    maior probabilidade de atingir o escore Z de peso para altura; menor probabilidade de recaída e de recidiva; melhora no ganho de peso e redução do tempo de recuperação. Ressalta-se que um destes ECR apresenta conflito de interesses. Nenhuma RS analisou desfechos acerca da segurança do uso de RUTF. Dois GPC da Organização Mundial da Saúde foram selecionados mediante busca manual. Um GPC recomenda que o RUTF pode ser utilizado para crianças com desnutrição aguda grave que apresentam diarreia aguda ou persistente da mesma forma que crianças sem diarreia, quer sejam tratadas como pacientes internados ou ambulatoriais. O outro GPC recomenda que para tratamento ambulatorial de crianças com desnutrição aguda grave seja utilizado o RUTF padrão (com pelo menos 50% de proteína proveniente de laticínios). Considerações finais Esta revisão rápida aponta que há poucos estudos sobre o tema. As evidências são insuficientes para afirmar quais intervenções (RUTF ou F-100) são mais eficazes. As recomendações dos GPC também são baseadas em evidências escassas. Portanto, não há evidências que sustentem o uso do RUTF em detrimento da F-100, pois não há comprovação de maior eficácia e nenhum estudo abordou a segurança a longo prazo do uso de RUTF.

    Context:

    The Ministry of Health, through Ordinance GM/MS No. 28, of January 20, 2023, declared a Public Health Emergency of National Importance (ESPIN) due to lack of assistance to the Yanomami population. Since then, among 19 indigenous children aged between six months and five years old with severe malnutrition who were assisted by the Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) in Boa Vista/RR, 15 (78%) have gained weight and are evolving from serious conditions. for moderate malnutrition, based on the protocols and guidelines of the Ministry of Health. In Brazil, the recommendation of the Ministry of Health for the treatment of severe malnutrition includes feeding schemes using initial food preparation - F-75 (75 kcal and 0.9g of protein/100ml) and food preparation for rapid growth - F-100 (100 kcal and 2.9g of protein/100ml). The clinical practice guide (CPG) of the World Health Organization (WHO) states that most children aged six months or more with severe acute malnutrition, without medical complications, can be safely treated with ready-to-use therapeutic foods ( Ready-to-use-therapeutic-food - RUTF), without the need for hospitalization in a health unit.

    Question:

    What is the safety and efficacy of RUTF, in the short and long term, for the treatment of children under five with severe malnutrition? Methods: After carrying out a research protocol, five electronic literature databases were accessed in March 2023 to identify studies that could answer the research question. Using rapid review shortcuts, the processes of study selection, data extraction and methodological quality assessment of the SR included with the AMSTAR 2 tool were carried out.

    Results:

    Two systematic reviews (SR) were included, being assessed as having low and moderate confidence. An SR performed meta-analyses, indicating that there was no difference between the RUTF and F-100 groups for weight gain and mortality. Most of the primary studies, 3 out of 5 randomized clinical trials (RCTs) cited in the SR show that there was no difference between the RUTF and F-100 groups in terms of height, arm circumference and acute malnutrition.

    Two primary studies included in the SR indicate that treatment with RUFT has the following positive outcomes:

    increased likelihood of achieving weight-for-height Z-score; lower probability of relapse and recurrence; improvement in weight gain and reduced recovery time. It should be noted that one of these RCTs has a conflict of interest. No SR analyzed outcomes regarding the safety of using RUTF. Two World Health Organization CPGs were selected by manual search. A CPG recommends that RUTF can be used for children with severe acute malnutrition who have acute or persistent diarrhea in the same way as children without diarrhea, whether they are treated as inpatients or outpatients. The other CPG recommends that standard RUTF be used for outpatient treatment of children with severe acute malnutrition (with at least 50% protein from dairy products).

    Final considerations:

    This quick review points out that there are few studies on the subject. There is insufficient evidence to state which interventions (RUTF or F-100) are most effective. The CPGs recommendations are also based on sparse evidence. Therefore, there is no evidence to support the use of RUTF over F-100, as there is no evidence of greater efficacy and no study has addressed the long-term safety of using RUTF.

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